quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O Voo de Balão mais Incrível e Inédito de Torres

O desejo de voar do ser humano vem desde os primórdios e atravessa gerações. Essa necessidade de nos igualar a super-heróis, ou de simplesmente nos elevar deste plano para outro, nos afastando de nossas frustrações e do peso da realidade em que vivemos, nos é sedutor e empolgante.
Mas a verdade é que, ao contrario das aves, não fomos feitos para isso, a aerodinâmica de nossos corpos, a ausência de asas e até a densidade dos nossos ossos nos recomendam deixar nossos pés bem firmes ao chão. Mas há algo mais forte que nos chama aos céus e é dai que surgem as ideias mais mirabolantes.
O meu desejo de voar e minhas percepções dessas vivencias, vão muito além da necessidade de um equipamento físico, já me transportei para outras dimensões através de literaturas fascinates e até de rituais Xamanicos, mas esses são assunto para outra pauta! A possibilidade de um Voo de Balão na magnifica praia de Torres, litoral do RS, era um sonho há muito desejado, principalmente pela curiosidade e exclusividade de estar dentro de um cesto elevado por um envelope flutuante, sem mecanismos de propulsão e direção de rígidos controles, repleto de ar queimado. Tudo nessa experiência me era inédito e fascinante.
Antes de alçar voo nessa invenção do século XVll , fiz uma série de questionamentos que davam conta da experiência do piloto e de possíveis possibilidades de emergência a que estaríamos expostos. Sempre ouvi histórias e alertas de que balões não foram feitos para sobrevoar o mar echegamos a relembrar um episódio de 2016, durante um Festival de Balonismo Internacional da cidade, onde dois balões pousaram no mar e tiveram que ser resgatados pelo corpo de bombeiros (foto:Harleyson Almeida) . O Piloto foi enfático em me afirmar que o voo é seguro e que sua experiência nacional e internacional o credenciava para tal aventura, salientando que se houvesse a menor possibilidade de ventos que nos levassem ao mar não levantaríamos voo.
A aventura se iniciou às margens do Rio Mampituba, num terreno baldio onde outras equipes preparavam seus equipamentos. Juntou-se a nós, dando ainda mais credibilidade a esse evento inédito, três paraquedistas, entre eles Luiz Henrique Tapajós Antunes dos Santos, o Sabiá, paraquedista recordista de salto de balão em maior atitude (15.000 pés) e os instrutores da escola de Torres, Arcanjos Paraquedismo. Céu azul, ventos fracos a moderados e lá fomos nós....uma decolagem incrível com uma elevação surpreendentemente rápida e já estávamos vendo a belíssima cidade, seus relevos e o mar a mais de 2.600 pés, cerca de 800 metros. Os dois paraquedistas que estavam conosco se preparavam para saltar sob as coordenadas do piloto que buscava a altitude de 1.000 metros. A paisagem lá de cima é indescritível, a sensação de voar num cesto ouvindo e sentindo a ação do maçarico gigante que nos aquece, impulsiona e eleva, só pode se igualar a sensações de voos de super-heróis, tão desejados a que me referi lá no inicio do texto. Sabemo-nos mortais, mas por um momento sentimo-nos deuses, seres diferenciados de toda a humanidade. Em momento algum tive medo ou insegurança , somente a sensação de êxtase embalada pela emoção de todos ali presentes.
O mergulho dos paraquedistas me causou uma forte dose de adrenalina, minhas pernas perderam a sustentação e minhas mãos ficaram subitamente molhadas de suor a ponto de eu não conseguir de imediato olhá-los. Era como se o céu os haviam sugados e a minha aproximação causaria a mesma ação, gelei e o balão com a diminuição do peso dos dois homens subiu de súbido dos cerca de 1.000 metros para aproximadamente 1,200 metros. Estávamos muito mais altos dos que os demais balões que já tomavam uma outra rota, alguns se encaminhavam para o pouso e nos flutuávamos feito o mito de Dédalo e Ícaro, rumo ao sol sobre o mar.
Víamos a costa ao longe, nos aproximávamos da Ilha dos Lobos, a pericia do piloto me tranquilizava, mas o seu silêncio e concentração naquela “navegação” sobre o mar me alertavam sobre possíveis perigos. Éramos só nos dois nos ares, sobre o mar, deslumbrando paisagens jamais vistas sob estes ângulos, tínhamos a certeza de ser um voo histórico!
Nossos celulares e whatsapp não paravam de tocar e receber mensagens e imagens de amigos e da equipe de terra que registravam aquela aventura inusitada. Ríamos, admirávamos o belo, despertávamos um ao outro sobre o visual que pouquíssimas retinas tiveram a oportunidade de registrar, e como num balé de correntes de ar, flutuamos hora para a costa da cidade, outras para a costa da África. A experiência e a inteligência emocional do piloto conduziam nosso aeróstato com sabedoria e com a certeza que uma equipe em terra já tomava todas as providências caso algum fato lhe saísse ao controle.
Após passar pelas emblemáticas falésias que emolduram a costa da mais bela praia gaúcha, fomos nos aproximando da extensão de areia mais longa e pousamos com muita categoria na beira da praia da Itapeva , sob forte emoção nossa e da bem estruturada equipe de terra do Balão Sosseg e do seu piloto PC – Paulo Cesar.
A certeza que lhes trago é que voar é maravilhoso, a sensação nos transporta para outros reinos, para mundos paralelos distantes da realidade. Se esse relato lhe pareceu muito forte e que talvez você não tenha a nossa frieza para viver tal aventura, mesmo assim lhe recomento, voe, saia dessa vida previsível , seja através dessa leitura ou de outras mais ricas, ou quem sabe através de um ritual xamanico!
San Lopez. Produtor - Ator - Apresentador

5 comentários:

  1. Maravilhoso trabalho, profissional da melhor qualidade 😍👏🏼👏🏼👏🏼😘

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  2. caro Sandro
    tua narrativa é estrema mente rica
    w ponto de nos levar a viver tua experiência
    parabéns

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  3. Grande experiência! Relato emocionante,intenso e com muita vida!!! Parabéns pela grande aventura de voar novos sonhos!

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  4. Com um relato tão minucioso impossível não fazer parte desta aventura. Amei!!!!

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